quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

XV - O Diabo

Esta carta é curioso ter caído no dia de Natal, mas se tivermos em conta a história deste dia, é uma coincidência espantosa...
Falemos da carta O Diabo.
Três figuras estão dispostas de pé. Uma delas está em cima de um pedestral, como representando uma divindade. Um ser exaltado, uma sedução que é o nosso ego que foi eliminado e revolta-se vontando em todo o seu poder.
Este ser é hermafrodita, com asas nas costas e com chifres na cabeça.
As figuras em baixo são uma delas masculina e a outra feminina. As duas estão presas por uma corda ao pedestral, mas nalgumas versões estão presos por uma corda que vai ter à mão da figura central.
A figura central apenas veste um cinto vermelho, uma touca amarela e uma gola de cor verde. Toda a roupa, tudo o que era material se foi, mas o outro eu não se dá por vencido. O corpo ainda é usado como teste.
As figuras em baixo estão também despidas e têm chifres na cabeça.
Na mão esquerda, de aspecto não humano, a figura do centro tem um bastão com uma chama. É sinal de uma consumação agressiva ao ego. A outra está aberta mas não revela a sua palma, esconde algo atrás.
O corpo do que está no centro apresenta no ventre uma segunda cara que exibe uma expressão de gozo. Os próprios diabretes escondem as mãos atrás das costas. A carta mostra o que ainda se esconde e que dificulta o novo nascimento. As forças que ainda conseguem mover o nosso corpo e o impedir de nascer complentamente novo.
O chão onde se apoia o pedestral e os pés dos diabretes é negro, símbolo que tudo foi afectado por uma combustão, mas ao fundo tem-se um terreno arado.
A carta tem uma disposição semelhante a O Papa, o que não deixa de ser curiosa a semelhança. As duas têm três figuras em que uma delas é dominante sobre as outras, mas aqui não está mais num trono mas é mais celestial.

O Diabo. Brotherhood Tarot.
No plano intelecual existe uma grande actividade de forma egoísta e sem complexos pelas leis ou normas. O que preocupa a pessoa em questão é a sua própria pessoa. Como O Louco seguiu um caminho completamente solitário, atinge-se o ponto que ele deixa de ser alguém sociável. Torna-se egocêntrico, deixa-se levar pelas suas próprias paixões. O próprio julgamento é tomado pela capacidade que ele julga ter sob a sua pessoa e sobre a natureza. A exaltação do ego atinge a sua maior potência. Como sabe mover as leis da natureza ao seu propósito, ele consegue subjugar os outros aos seus caprichos.
Em termos emotivos a carta mostra avidez. Mostra uma insatisfação, um querer mais e mais que se pode tornar facilmente monstruoso, mas pode também ser domado para ser benéfico a querer-se cada vez melhor. A avidez pode levar a uma busca em várias direções para poder seguir por alguma, a energia está em alta por se ter adquirido muita com a aprendizadem de A Temperança, assim como os conhecimentos que se adquire nesta acerca do mundo de magia. Não existe um olhar pelo próximo, mas uma satisfação pessoal.
No campo físico existe grande radiação em termos de dinheiros. Tudo se consegue, mas a que preço? Existe uma realização de projetos de forma concreta, mas não passa deste patamar. De todo o modo o sucesso não é conseguido pelas vias de mérito e honra que são habituais, mas por outros caminhos. Ganhos conseguidos por vias censuráveis que permanecem impunes. O sistema nervoso é atinguido pela grande actividade e instabilidade. Disturbios de ordem hereditária ou reprodutiva pode acontecer.
Quando virada a carta indica uma desordem, caos. Uma reviravolta no seguimento dos planos. Do ponto de vista da saúde ocorre uma reversão em termos de cura. Pode ocorrer uma situação de ofuscamento pelo que sentem os sentidos.

O Diabo. Tarot de Thoth.
Crowley indica que a carta está associada à letra Ayin e ao signo Capricórnio. Esta carta está no caminho de oposição à carta XIII que conduzem os dois a Tiphareth. É uma carta em que o extase é desenvolvido.
O bode de Capricórnio é exaltado na carta. Salta em extase pelos cumes da terra. É regido por Saturno e tende para o egoísmo e para a perpetuidade. Neste signo Marte é exaltado como na carta XIII, mas na sua forma mais poderosa.
É de notar que o tronco da Árvore da Vida rompe os céus e em torno dele o anél do corpo de Nuit, a deusa da noite.
A carta se deleita no estéril e áspero que é mostrado no cenário da carta. Nela se descobre o prazer do prazer. Uma lição que foi também tomada por todos os santos.
A carta é uma exaltação da fertilidade masculina e da multiplicação da humanidade. Existe o gérmen do restante, mas há que tratar de desbravar esse caminho a seguir.
A carta ensina a apreciar tudo o que se aprendeu. Mais que adquirir o conhecimento, ensina o gozo pela obra que se fez. Este facto é ainda muito mal visto pela tradição. O próprio Crowley era visto como o homem mais preverso numa sociedade vitoriana em que os velhos valores eram defendidos de forma aguerrida. Crowley admitia que se devia admirar, ter prazer com a Grande Obra. O resultado tinha de ter significado, não podia ter uma predestinação, mas um sentido contemplativo.

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