domingo, 22 de dezembro de 2013

XII - O Dependurado



Esta carta pode também ser chamada de O Pendurado ou O Enforcado e raramente se gosta dos significados da carta. Percebamos poquê.
Um homem está suspenso numa trave de madeira que se apoia em duas árvores podadas. O tronco é amarelo e mantém os seis terminais dos ramos podados mais os dois que suportam a trave.
Na base das árvores existe um terreno verde e nele se produz as ervas de quatro folhas, um símbolo de produtividade.
O personagem está vestido com uma jaqueta que termina num saiote e que tem nove ou dez botões, dependendo da edição. Estes botões assemelham-se a moedas e algumas representações de O Dependurado mostram moedas a cair. É o largar-se o material, a crucificação de Pedro por causa daquilo que acredita. É o heroísmo dos mártires.
As mãos da figura não estão visíveis, não deixando antever o que possam elas estar a fazer. Pode a personagem estar com as mãos atadas ou estar a fazer algum tipo de arte oculta.
As pernas são também curiosas de se observar. À semelhança de O Imperador, as pernas estão cruzadas, tomando a figura o símbolo alquimico do mercúrio. Esta postura é simbolo de que o requerente está a passar por uma prova iniciática e dela terá de sair com as suas crenças fortalecidas. Se em O Papa tínhamos uma figura que estava ciente das suas crenças, aqui a personagem entra na sua negra noite para colocar em causa tudo o que acredita e sair mais forte espiritualmente.
Em várias edições existe um aspecto muito controverso e enigmático nesta carta: a expressão facial. Se por um lado em várias edições a cara é quase neutra, noutras O Dependurado está a sorrir, o que significa que o sacrifício que está a fazer é uma auto-abnegação voluntária.

O Dependurado. Tarot de Metamorfoses.
A nível mental indica processos em amadurecimento. Uma entrega desinteressada. Nesta etapa a pessoa aprende a sair de si e aniquilar um pouco o seu ego de modo a poder dar-se a uma causa ou a um maior amadurecimento. É uma carta de aprendizagem através da tentativa-erro. Uma sementa da sabedoria que virá mais tarde. O estado de espírito da figura na lâmina é de um grande estado de espírito, a entrega a uma revolução interior que pode muito bem levar a várias perdas a nível físico. Nunca é uma carta de conclusão.
Em termos emocionais, a entrega que se dá é tanta que pode existir uma cegueira causada pelas emoções. As próprias emoções não são bem claras e pode-se dar o caso de indecisões. Não existe frieza mas também não existe profundidade. A pessoa em causa pode estar a passar por um processo de se descobrir emocionalmente mais profunda que antes se imaginava.
Em termos físicos a carta indica um completo abandono. Perdas monetárias ou mesmo de bens. Projectos de carácter duvidoso. A própria resolução de problemas pode muito bem ser atrasada por diversos aspectos. A pessoa em causa deve pedir uma ajuda séria para a sua vida. Em termos de saúde existe uma tendência para problemas circulatórios e de depressão.
Quando a carta se encontra virada, o sentido altera-se de certo modo. Existe um exito possível mas pouco prazeroso e incompleto. Existe uma série de decisões que são tomadas mas não são concretizadas. Promessas não cumpridas, amores não correspondidos.

O Dependurado. Tarot de Thoth.
Crowley atribui a carta à letra Mem que significa água.  A carta mais que uma carta de perdas é uma carta de baptismo.
O corpo em forma de cruz com os braços a formar um triângulo é símbolo da descida da luz às trevas para a redimir.
Os círculos verdes são símbolos de Vénus e da graça.
A figura é apenas emersa pelo seu pé. A água é de tonamidade verde e é encimada por raios provenientes da luz de Kether. O ankh sustenta toda a figura como símbolo de salvação e a serpente indica estar a passar-se uma transformação que será materializada na carta que se segue.
Crowley indica que a carta não significa sacrifício, mas sim uma imersão na redenção em que tudo é virado ao contrário. É a carta do deus que morre. A carta indica que as  coisas estão erradas e é preciso as virar. Por isso é uma carta de aviso e de salvação. "A principal meta dos sábios deveria ser livrar a espécie humana da insolência do auto-sacrifício e da calamidade da castidade; a fé tem de ser morta pela certeza e a castidade pelo extase."
No fundo da carta está uma outra serpente que se agita na escuridão do Abismo. A serpente que se agira mas que não sai  ainda da toca. O monstro marinho que ainda não destruiu tudo mas perturba para que a pessoa possa renover-se. É o monstro que dorme com um olho aberto.

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